A importância dos aspectos hedônicos (prazer) na Experiência do Usuário de longo prazo

No campo do UX Design (Design de Experiência do Usuário), muito se fala sobre usabilidade, funcionalidade e eficiência. No entanto, à medida que o relacionamento entre humanos, produtos e IA evolui, os aspectos hedônicos (como prazer, beleza, estímulo e identificação) tornam-se centrais na avaliação da experiência. Essa é a principal conclusão do estudo apresentado no artigo Identifying Hedonic Factors in Long-Term User Experience.

A pesquisa mostra que métodos tradicionais de avaliação focam excessivamente em aspectos pragmáticos e de curto prazo. O desafio, portanto, é entender como a memória emocional (dos usuários) e os valores simbólicos de um produto influenciam a lealdade e a satisfação do usuário ao longo do tempo.

O método UX Curve: capturando emoções esquecidas

Para investigar a experiência do usuário em um intervalo de até 12 meses, o estudo aplicou o método UX Curve, no qual os participantes desenham uma curva representando como sua experiência evoluiu com o tempo, com foco em quatro dimensões: atratividade, usabilidade, utilidade e frequência de uso.

Esse formato retrospectivo foi mais eficaz do que questionários tradicionais na identificação de elementos hedônicos, pois estimulou os usuários a recordar momentos emocionais e significativos, em vez de responder com base apenas em critérios racionais ou esperados socialmente.

Facebook vs. celulares: a diferença está na emoção

Entre os participantes, o Facebook despertou mais motivações hedônicas — como estímulo (novidade, conteúdo social) e sociabilidade (contato com amigos) — do que os celulares, cuja atratividade caiu com o tempo devido à familiaridade, desgaste físico e surgimento de modelos mais modernos.

Apesar disso, a beleza e o valor simbólico do celular ainda foram fatores importantes no início da experiência, sendo citados como motivo de orgulho, comparação com amigos e até como status.

Por que a atratividade importa para a lealdade do usuário?

O dado mais relevante é que a curva de atratividade teve forte correlação com a satisfação dos usuários, suas expectativas atendidas e a disposição em recomendar o produto. Ou seja, não é apenas a funcionalidade que fideliza, é o prazer subjetivo ao longo do tempo que determina a permanência e o engajamento.

Essa descoberta reforça a importância de desenhar experiências que vão além da tarefa funcional e conectem o produto à identidade e às emoções do usuário, como Rian Dutra discute na sua definição de Design de Experiência Humana (Human Experience Design) no livro Enviesados.

Estratégias para incorporar aspectos hedônicos no UX Design

1. Estimule a estética funcional

O design visual impacta diretamente a percepção de atratividade. Cores, formas e microinterações devem reforçar a estética sem comprometer a funcionalidade.

2. Reforce elementos de identificação

O produto deve permitir que o usuário expresse sua personalidade, valores ou estilo de vida, seja por meio de personalização, presença social ou simbolismo cultural.

3. Mantenha o estímulo com novidade

Conteúdo novo, atualizações frequentes ou pequenas surpresas mantêm a sensação de descoberta, combatendo a queda da atratividade causada pela familiaridade.

4. Valorize a narrativa do uso

Incentive o usuário a reviver e compartilhar experiências com o produto. Memórias positivas sustentam a lealdade e fortalecem o valor percebido.

Conclusão

A experiência do usuário não se resume à interação funcional de um momento. Ela se constrói com o tempo, se transforma com o contexto e é profundamente influenciada por elementos emocionais, simbólicos e sociais.

O estudo com o método UX Curve mostra que prazer, estética e identificação são fatores decisivos para manter a atratividade e a lealdade dos usuários ao longo de meses. Ao projetar produtos que despertam essas emoções, o UX Design (Design de Experiência do Usuário) cumpre seu papel estratégico: criar experiências que permanecem na memória, e no coração, dos usuários.

Texto adaptado do artigo: Kujala, Sari, et al. “Identifying hedonic factors in long-term user experience.” Proceedings of the 2011 Conference on Designing Pleasurable Products and Interfaces. 2011.