IA no UX Design: será o fim da interface tradicional?

Com a ascensão de sistemas baseados em IA, o UX Design (Design de Experiência do Usuário) está passando por uma transformação radical. Jakob Nielsen propõe que a interface gráfica tradicional está desaparecendo, sendo substituída por modelos autônomos que operam por conta própria, com cada vez menos intervenção humana direta.

Entretanto, isso não representa o fim do design, mas um reposicionamento da disciplina: de desenhar botões para orquestrar ecossistemas de agentes inteligentes.

A jornada da IA no design de produtos foi descrita por Luke Wroblewski em seis estágios progressivos, onde a interação visual é substituída por sistemas de intenção, e o papel do designer passa a ser definir políticas, fluxos e limites, não mais apenas wireframes.

A evolução dos produtos de IA: os 6 estágios

EstágioO que mudouExemplo práticoDesafio central de UX
1. ML nos bastidores (2016–2022)Modelos atuam sem se revelar.Google Translate, recomendações do YouTubeAdaptar saídas da IA aos padrões visuais existentes.
2. Interfaces conversacionais (final de 2022)A IA aparece como protagonista, e o diálogo se torna o produto.ChatGPT, clones de imagem/vídeo com IADesign de conversas, estruturação de prompts e recuperação de erros.
3. Produtos com recuperação aumentada (2023)Integração de contexto externo (RAG) melhora confiança e qualidade.Busca “Ask LukeW”, ChatGPT com webMostrar origem da informação, citações e controles de fonte.
4. Uso de ferramentas e agentes em primeiro plano (2024–2025)Agentes executam etapas, encadeiam ferramentas e permitem ajustes do usuário.Augment Agent, Bench workspaceVisualizar planos, editar tarefas em andamento e indicar limites das ferramentas.
5. Agentes em segundo plano (2025 em diatnte)Fluxos autônomos em paralelo e quase sem supervisão.Agendamentos Bench, demos multi-agenteCriar painéis de monitoramento, alertas e sinais de confiança.
6. Ecossistemas de agentes (emergente)Agentes negociam entre si (como o protocolo A2A do Google).Ainda especulativoDefinir repasses, permissões e trilhas de auditoria entre silos.

A Nova Realidade: da Interface à orquestração de agentes

A era da IA exige que UX vá além de projetar telas. Com assistentes autônomos, a experiência do usuário é moldada por decisões invisíveis: permissões, prioridades, fontes de informação, critérios de confiança e gestão de falhas.

Esse modelo exige novas habilidades de design:

  • Superfícies de política: definir permissões, limites de custo e regras éticas.
  • Indicadores de confiança: inserir medidores de incerteza e mecanismos de rollback.
  • Temperamento do sistema: ajustar o nível de proatividade do agente conforme o contexto.

Em vez de wireframes, criam-se manuais operacionais. É o que Nielsen chama de agent choreography ou governança da experiência, que combina arquitetura da informação, design conversacional, pensamento operacional e economia comportamental.

Implicações diretas para UX Design (Design de Experiência do Usuário)

1. A exposição do modelo exige decisões estratégicas

Decida se a IA será visível (chat, agente) ou invisível (autocompletar, recomendação). Isso afeta o nível de controle e expectativa do usuário.

2. A confiança migra do resultado para o processo

Com agentes autônomos, os usuários confiam menos na resposta final e mais no caminho que levou até ela: etapas visíveis, citações, justificativas e possibilidade de reverter ações.

3. Os modelos mentais ficam defasados

Cada salto tecnológico (de ML silencioso para agentes autônomos) exige reeducar o usuário sobre o que esperar e como operar o sistema. O onboarding precisa ser redesenhado para essa nova realidade.

4. O design de erros se torna crítico

Agentes podem cometer erros caros ou expor dados. Designers precisam prever:

  • Limites de custo
  • Modos de teste/sandbox
  • Caminhos de escalonamento
  • Ponto de intervenção do usuário

5. Controle de contexto e painéis de agente

Deixe o usuário selecionar fontes, revisar tarefas e acompanhar progresso por meio de dashboards com status, custos e opções de pausa, retomada ou edição.

Conclusão: o Design não morre, ele evolui

O UX Design (Design de Experiência do Usuário) não desaparece com o fim da interface clássica. Ele se metamorfoseia em governança de ecossistemas autônomos, onde o valor é entregue por meio da intenção, contexto e orquestração.

Projetar para IA exige um novo conjunto de ferramentas mentais e práticas, e quanto antes a área de UX abraçar essa virada, maior será sua influência no futuro das experiências digitais. O livro “Enviesados”, de Rian Dutra, já antecipa essa mudança ao mostrar como decisões invisíveis moldam realidades digitais, e por que é essencial desenhá-las com responsabilidade, ética e clareza.

O futuro não é sem UX. É talvez UX sem tela, mas com ainda mais impacto.

Texto adaptado de https://jakobnielsenphd.substack.com/p/no-more-ui

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