Por que o pedido do filho do Faustão poderia realmente revolucionar a doação de órgãos no Brasil?
É com a mesma técnica usada num importante Design de Formulário que foi capaz de gerar uma mudança no comportamento de milhões de pessoas na Europa.
João Silva quer que a lei mude para que todos sejam automaticamente doadores de órgãos — a menos que decidam não ser. Doação presumida.
Num estudo sobre doação de órgãos na Europa [1], perceberam que parte dos países tinham muitos doares, enquanto noutros, não. Por exemplo, na Dinamarca, eram apenas 4%, enquanto na França e Áustria, quase 100% da população era doadora.
Isso não tinha a ver com a cultura, mas com o Design do Formulário.
É o viés cognitivo aplicada ao design!
Nos países em que haviam poucos doadores, as pessoas precisavam marcar “quero ser doadora”, enquanto naqueles com altas taxas de consentimento, já eram automaticamente doadoras e precisavam marcar “não quero ser doadora”, caso optasse assim.
Os humanos tendem a não querer tomar decisões, e acabam não marcando a opção.
Da mesma forma, num experimento sobre o uso de Opção Padrão na configuração de impressoras [2], ao mudar a definição padrão para imprimir na frente e verso da folha, conseguiu diminuir o consumo de papel em cerca de 15%.
Então, se quiser mudar o comportamento do seu usuário, talvez não precise convencê-lo a mudar suas preferências, apenas projete o ambiente, informações e opções para persuadi-lo a agir como deseja.
Uma simples mudança na Arquitetura da Escolha pode mudar drasticamente o comportamento de uma multidão.
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Referências:
[1] Johnson, Eric J., and Daniel Goldstein. “Do defaults save lives?.” Science 302.5649 (2003): 1338-1339.
[2] Egebark, Johan, and Mathias Ekström. “Can indifference make the world greener?.” Journal of Environmental Economics and Management 76 (2016): 1-13.