No design, uma explicação para tudo existe — Por que Mickey usa luvas? Por que elevadores têm espelhos?

Uma luva branca num rato preto humanoide nunca deveria ser apenas uma luva branca num rato preto humanoide.

Por que Mickey usa luvas? Por que elevadores têm espelhos? Por que o carrossel de filmes da Netflix mostra o último apenas parcialmente? Por que ChatGPT mostra a resposta letra por letra? Por que o “x” está sempre no lado direto (exceto no Mac)?

O design tem de ter uma intenção.

Para a primeira pergunta, há uma explicação: ganhar contraste. O corpo de Mickey era todo em preto, assim como seus pés e mãos. Quando sobrepostos, pela sua movimentação animada, tornavam-se indistinguíveis. Apenas preto sobre preto.

Com as luvas brancas, era possível ver seus dedos articularem de forma simples, enquanto facilitava o trabalho dos animadores da Disney. Em 1929, já estava usando luvas com três traços sobre o dorso das mãos, no curta-metragem “The Opry House”.

No Design, para tudo deve haver uma explicação. Deve ser intencional. Proposital. Um dos principais objetivos do Design é vender algo (um produto, uma ideia) e proporcionar experiências significativas para que o usuário consiga solucionar seu problema — seja encontrar um lanche no aplicativo, seja analisar dados em planilhas digitais complexas, ou simplesmente escolher um bom filme para assistir; apesar de que se estiver usando Netflix, essa tarefa seja um pouco mais árdua.

Assim como alguém sem propósito não é nada além de um transeunte que perambula pelos dias e noites, o design sem estratégia ou sem intenção não passa de uma tela desenhada que permite o usuário engendrar sua própria forma de usar a interface — porquanto não deveria.

Sua interface é feito de Figma ou de intenção? De botões ou de ações? De telas desconexas ou de caminhos minuciosamente pensados para os humanos terem o que precisam?

Assim como insistentemente deveríamos nos questionar “qual o nosso papel no mundo”, questione seus designs e os de outrem: qual é seu papel no mundo [do usuário e do negócio]?

O propósito deveria estar arraigado em cada parte de nós. Em cada um de nossos designs. Ou a caoticidade do mundo atual não nos permitiria burlar tantos processos desnecessários na vida e nos projetos para encontrarmos a real missão?

Uma luva branca num rato preto humanoide nunca deveria ser apenas uma luva branca num rato preto humanoide.

Portanto, da próxima vez que vir um botão na tela, é bem provável que ele tenha sido colocado ali, daquela forma, com aquela cor, com aquele rótulo, por algum motivo. E talvez seja esse motivo que o tenha feito ganhar um clique seu.

Rian Dutra

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