Segundo pesquisas, as redes sociais podem ocasionar diversos efeitos negativos na saúde, os quais variam conforme o grau de dependência do usuário.
Um estudo realizado entre funcionários de 13 empresas na Tailândia revelou que aqueles com um nível mais alto de dependência aparentemente têm menor capacidade de atenção plena, isto é, de estar completamente imersos no momento presente. O vício nas redes sociais pode diminuir a produtividade e o sucesso no trabalho, na educação e em outras áreas da vida. O estudo também mostrou que indivíduos dependentes de redes sociais frequentemente optam por aliviar o estresse focando nas emoções, em vez de abordagens direcionadas aos problemas. Em outras palavras, buscam reduzir a intensidade emocional de uma situação como uma forma de superar a adversidade em alternativa a tomar medidas voltadas à causa do problema. Contudo, o uso das redes sociais como meio de amenizar a tensão é considerado prejudicial à saúde, podendo intensificar a fadiga emocional. Muitos recorrem às redes sociais para escapar das dificuldades da vida real, mas essa prática acaba por impedi-los de encarar e solucionar os seus problemas.
Frequências mais altas de visitas diárias a sites de redes sociais têm mostrado correlação com um aumento nas chances de depressão em pessoas entre 19 e 32 anos nos Estados Unidos, e descobertas semelhantes foram registradas em âmbito internacional. Além disso, dois estudos distintos, um envolvendo adolescentes escoceses e outro com estudantes universitários norte-americanos, apontaram uma ligação entre o aumento no uso de redes sociais e níveis mais elevados de ansiedade. Sem citar outras pesquisas pelo mundo que associam a utilização das redes sociais com falta de sono e hábitos alimentares pouco saudáveis.
Recentemente, o TikTok é uma plataforma de mídia social que experimentou um grande aumento em popularidade. Através de vídeos curtos, o TikTok abrange as mais variadas categorias, como dublagens, danças ao som de músicas populares, comédia, instruções de habilidades técnicas e inspiração para exercícios físicos. Além disso, os usuários podem criar seu próprio conteúdo e interagir com o conteúdo de outros por meio de curtidas, comentários e compartilhamentos. Outro elemento fundamental do aplicativo é a seção “Para Você”, um feed personalizado para cada usuário, selecionado pelo aplicativo com base em suas atividades e interações anteriores. Muitas pessoas fazem uso dessa plataforma como uma ferramenta de marketing, tornando-se “influenciadores”, e diversas empresas a utilizam para promover seus produtos. Os mais de 1 bilhão de usuários são compostos principalmente por pessoas mais jovens, com um número significativo de adolescentes. Em primeiro lugar na lista das startups mais valiosas do mundo, o TikTok é o aplicativo de mídia social mais baixado, superando plataformas tradicionais, como Instagram e Facebook.
Criado em 2005 no Vimeo, ganhando mais força ao ser introduzido no Facebook em 2009, o botão “curtir” é uma marca de quase todas as plataformas de mídia social atuais. As “curtidas” informam sobre as normas sociais e refletem a perspectiva social de determinados conteúdos digitais que são publicados, influenciando a maneira como as pessoas os percebem. E também fornecem dados para empresas de mídia social e outros sites que possuem plugins do botão “curtir”, permitindo-lhes ajustar seu conteúdo de forma mais específica aos usuários, mantendo-os envolvidos sem a necessidade de questionar diretamente suas preferências. O botão “curtir” desempenhou um papel crucial no crescimento substancial do Facebook em 2010 e teve impactos semelhantes no TikTok nos últimos anos.
As “curtidas” atuam como recompensas para os usuários de redes sociais. Um estudo que empregou ressonância magnética funcional para simular a “experiência do Instagram” de visualizar fotos “curtidas” revelou um aumento na atividade cerebral em áreas tradicionalmente associadas à recompensa. Isso demonstrou como as “curtidas” podem influenciar e servir como uma forma mensurável de endosso social entre os usuários. As “curtidas” indicam que outras pessoas aprovam tal conteúdo de um indivíduo, satisfazendo a necessidade humana de aceitação, especialmente por parte daqueles que respeitam e cujas opiniões valorizam, como “amigos” ou “seguidores” nas redes sociais. A liberação de dopamina no cérebro em resposta ao recebimento de uma “curtida” estimula o uso contínuo das mídias sociais e a publicação de mais conteúdos na busca por reviver essa sensação prazerosa. Adicionalmente, os usuários experimentam um senso de investimento na plataforma ao “curtir” um conteúdo. E quanto maior esse sentimento, maior a probabilidade de retornarem futuramente ao site ou aplicativo.
Concluindo, é tão gratificante receber “curtidas” de outras pessoas como também “curtir” conteúdos alheios, o que impulsiona o uso repetido e o vício nas redes sociais.
Os usuários do TikTok são cativados pelos vídeos publicados por outras pessoas e frequentemente se inspiram para recriá-los ou para postar seu próprio conteúdo. Contudo, determinados elementos do aplicativo também contribuem para o desenvolvimento e a manutenção de vícios nessa plataforma. Semelhante a outras mídias sociais, o recurso de rolagem infinita e o sistema de recompensas variáveis no TikTok provavelmente aumentam a natureza viciante do aplicativo, levando os usuários a um estado de fluxo. Nessa condição, os usuários concentram-se intensamente na tarefa em questão, seja jogar, percorrer um feed de mídia social ou realizar outra atividade virtual, e podem perder a noção de quanto tempo passou. Outro aspecto a ser mencionado é a interface do aplicativo, notavelmente simples e fácil de usar, com apenas poucos botões e seções para navegar, tornando ainda mais acessível entrar nesse estado de fluxo. Além disso, os vídeos são curtos, o que é especialmente adequado dada a diminuição da capacidade de atenção dos jovens nos dias atuais, e preenchem toda a tela do dispositivo, criando uma experiência imersiva para os usuários.
Ao contrário de muitos outros aplicativos de mídia social, o TikTok não depende das escolhas deliberadas dos usuários sobre o conteúdo que desejam ver. Um dos principais impulsionadores do vício no TikTok é o mecanismo personalizado “Para Você”, em que a inteligência articial apresenta conteúdo aos usuários e analisa suas interações com ele, como curtidas, comentários e compartilhamentos, para determinar do que mais podem gostar. Isso cria um ciclo contínuo que inicia no primeiro uso e se torna cada vez mais preciso à medida que os usuários se envolvem repetidamente. Todos esses recursos trabalham juntos para prolongar o tempo que os usuários passam no aplicativo, tornando-o ainda mais viciante. Os desenvolvedores também realizam alterações frequentes no layout do aplicativo e adicionam novos recursos para incentivar os usuários a passar mais tempo navegando e se adaptando às atualizações.
Uma análise mais profunda dos aplicativos de mídia social indica que eles são estruturados para operar de forma semelhante a máquinas caça-níqueis. O recurso “deslizar para baixo” para atualizar o feed, por exemplo, se assemelha a puxar uma alavanca de uma máquina dessas. Além disso, o padrão variável de recompensa no TikTok, apresentado por meio de vídeos divertidos, simula o padrão intermitente de ganhar ou perder em uma máquina caça-níqueis. Esse modelo mantém os usuários engajados, criando a impressão de que a próxima “jogada” pode ser a “sorte grande”. Dado que os aplicativos de mídia social compartilham funcionalidades semelhantes com máquinas caça-níqueis, é provável que sejam igualmente viciantes.
Considerando o contexto mais amplo das plataformas de mídia social, podemos concluir que o “vício no TikTok” provavelmente se origina da união de vários fatores. Inclusive, como acontece com outros tipos de dependência, é razoável acreditar que aspectos individuais (experiências de vida e traços de personalidade) também possam contribuir para o desenvolvimento do vício no TikTok. Entretanto, ao que tudo indica, os elementos estruturais e contextuais dessa mídia social desempenham um papel mais significativo do que as características inerentes dos usuários. As particularidades do design e das funcionalidades do aplicativo, incluindo o padrão de recompensa variável na apresentação de conteúdo, uma interface simples e favorável ao estado de “fluxo” e a possibilidade de rolagem infinita, capitalizam mecanismos clássicos de condicionamento para facilitar a formação de hábitos viciantes. Diferentemente dos fatores pessoais que contribuem para o “vício no TikTok”, esses componentes da plataforma são controlados pelos desenvolvedores e podem ser modificados. Todavia, esses profissionais não demonstram disposição para adotar mudanças, cientes de que o sucesso de seu aplicativo depende da capacidade de manter os usuários envolvidos, mesmo diante de possíveis consequências negativas.
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