Sigo pessimista quanto ao nosso futuro, desculpa. Por “nosso”, não me refiro aos designers e desenvolvedores, mas quaisquer profissões que precisem PENSAR.
Tudo bem, a Inteligência Artificial (IA) não pensa de fato, ela processa informações e executa de maneira racional e pragmática, com base num grande oceano de dados. Bem, isso pode ser até mais poderoso que pensar.
Nossa sonhada inteligência artificial não é tão onírica quanto eu imaginava quando assistia aos Jetsons. Não do ponto de vista da capacidade resolutiva, mas do estrago que poderá ocasionar ao mundo.
Há quem diga que isso (IA) irá nos ajudar a canalizar nossas reais aptidões para não mais perdermos tempo com tarefas triviais ou repetitivas. Mas, sabe como é né… ser humano é um bicho folgado. Que tal deixar tudo para a IA?
Nos Jetsons, enquanto a IA — a querida Rosie — se encubia de afazeres corriqueiros para ajudá-los, George desenvolvia projetos de espaçonaves, usando sua própria inteligência natural. Olha que mundo idealista!
Enxergo nosso futuro da forma contrária: os humanos deixarão que a IA pense por eles. “Deixe que o robô faça essa difícil tarefa de raciocinar e pesquisar, enquanto lavo a louça de sexta-feira. Produtividade!”.
Há pouco, precisávamos pensar para escrever, desenhar, criar planilhas, definir personas, e até para fazer montagens do Papa usando Balenciaga. Mas, para que Photoshop se uma IA pode materializar algo à nossa vontade?
“Crie uma solução para esse problema!”, será um prompt bastante usado por um monte de equipe de design, cogito.
E a partir dessa singela mudança de abordagem — em que coloca a IA como centro das nossas ponderações e decisões — é que o roteiro de James Cameron se concretiza em nosso mundo real. Creio que a futura IA se assemelhe mais à AVA, de Ex Machina, do que à doce Rosie, de olhos amendoados e afáveis.
Não sigo fielmente Stephen Hawking quando prevê uma IA que desenvolverá um ímpeto próprio para sobreviver, e então se rebelar contra a humanidade. Mas, acredito na [nossa] burrice humana, que fará de tudo para colocar a artificialidade a frente da nossa própria razão. Ora, já fazemos um pouco disso quando opinamos no LinkedIn usando palavras criadas pelo ChatGPT, não?
Como toda transformação titânica (ou revolução), é inevitável que algum lado não sofrerá. Se na Revolução Industrial, nossos braços foram parcialmente substituídos por pistões e válvulas, a Revolução da Inteligência que enxergamos no porvir, poderá trocar parte do nosso pensar por algoritmos supostamente inteligentes.
É assunto controverso e obscuro. Tem que ter estômago para vislumbrar um futuro tão pessimista. Mas, confessa pra mim… há um quê de razão em tudo que escrevi, não?
Se nossa IA será a Rosie ou a AVA, saberemos em breve.
Enquanto isso, deixe-me pensar.