O poder das curvas no Design Persuasivo: por que usuários gostam de curvas e bordas arredondadas?

Desde o início de 1900 até os dias atuais, pesquisas apontam que as pessoas tendem a preferir linhas curvas às retas ou angulares. Essa preferência não se limita a formas simples, sendo também observada numa ampla variedade de objetos, incluindo utensílios do cotidiano, fachadas de edifícios, ambientes internos, bem como artes visuais (por exemplo, “Humans prefer curved visual objects”).

Linhas curvas são frequentemente consideradas graciosas, flexíveis e delicadas, enquanto as linhas angulares são muitas vezes associadas a sentimentos de agitação, seriedade e até ameaça. Desse modo, seja na embalagem do produto ou no layout do site, é comum os designers recorrerem a linhas curvas para criarem uma experiência esteticamente mais agradável para os usuários.

Estudos indicam que a preferência das pessoas por curvas não se trata meramente de gosto pessoal, mas sim de um fenômeno universal no campo visual. Uma meta-análise de estudos empíricos sobre contorno realizada por Chuquichambi e colaboradores em 2022 revelou que as pessoas preferem consistentemente curvas em vez de ângulos, com um tamanho de efeito médio de 0,39*. Esse efeito foi influenciado pelo tempo de apresentação, tipo de estímulo, tarefa e expertise, sugerindo que aspectos contextuais têm uma relevância na força da preferência.

* Os tamanhos de efeito são medidas estatísticas que quantificam a força e a magnitude da relação ou diferença entre duas ou mais variáveis em um estudo. São usados para determinar a significância prática de uma descoberta, indo além da significância estatística, que indica apenas se o resultado provavelmente ocorreu por acaso ou não. Um tamanho de efeito médio sugere que a relação ou diferença entre duas variáveis é moderadamente forte e pode ser observada com razoável consistência em diferentes estudos.

Por que as linhas curvas são tão populares?

Uma teoria argumenta que, devido à presença abundante de elementos redondos ou com bordas suaves na natureza, como montanhas, praias ou até mesmo os contornos dos humanos, nossas mentes desenvolveram uma atração inata por essas estruturas.

Os ângulos, por outro lado, podem ser percebidos como ameaçadores, já que objetos pontiagudos ou denticulados são geralmente perigosos (Bar & Neta, 2006). Os psicólogos evolucionistas sugerem que esta preferência por curvas pode estar relacionada à nossa predileção natural por objetos que sejam seguros, não ameaçadores e acolhedores.

Uma outra teoria sustenta que as curvas são simplesmente mais fáceis para os olhos. Uma pesquisa conduzida por Bar e Neta em 2006 constatou que as pessoas consideram formas curvas como mais agradáveis e menos complexas do que formas angulares. Isso pode ser atribuído ao fato de que as curvas demandam menos processamento cognitivo para serem percebidas e compreendidas.

Ainda que a preferência pelas curvas seja universal, isso não quer dizer que elas agradam a todos. Traços de personalidades, entre outros fatores individuais, podem moldar essa preferência. Por exemplo, pessoas com níveis mais elevados de abertura à experiência tendem a preferir formas mais complexas e não convencionais, incluindo curvas (Cotter & Silvia, 2017; Silvia & Barona, 2009) e (“Do People Prefer Curved Objects? Angularity, Expertise, and Aesthetic Preference”).

As preferências por formas variam entre diferentes culturas e indivíduos, principalmente no contexto de logotipos e designs. Culturas mais coletivistas têm uma inclinação para preferir formas arredondadas, ao passo que culturas individualistas preferem formas angulares (Zhang, Feick e Price, 2006). O autoconceito e a identidade social também interferem na preferência em relação à forma. De maneira geral, existem evidências de que essas preferências são afetadas por muitos aspectos, e não somente por motivações evolutivas.

Como aplicar curvas no UX Design para melhorar a usabilidade percepção do usuário

Diante desse cenário, compreender a preferência das pessoas por curvas pode ter implicações significativas no design. A seguir, apresentaremos alguns meios pelos quais os profissionais de UX podem aplicar esse conhecimento em seu trabalho:

  1. Empregar curvas para gerar uma sensação de conforto e segurança. Por exemplo, ao projetar um site ou aplicativo para um prestador de serviços de saúde, considerar a utilização de linhas curvas para promover uma experiência mais acolhedora e tranquilizadora.
  2. Cogitar o uso de formas mais curvas para produtos destinados ao prazer ou diversão. As formas curvas estão associadas a sentimentos positivos, enquanto que as angulares, à funcionalidade e emoções negativas.
  3. Estar atento ao contexto em que está utilizando curvas e ao tipo de produto para o qual está projetando. Embora as pessoas geralmente apreciem linhas curvas, essa preferência pode ser impactada por fatores contextuais. Além disso, não é porque as pessoas preferem curvas que elas não gostam de designs angulares.
  4. Conhecer seu usuário. Em UX, não há uma abordagem que sirva para todas as ocasiões. Realizando pesquisas com os usuários para compreendê-los, é possível escolher designs mais apropriados.

Conclusão

Entender a preferência das pessoas por curvas é importante no design, pois pode impactar consideravalmente a experiência do usuário. Estudos mostraram que os indivíduos são propensos a preferir curvas em detrimento de formas angulares, provavelmente devido à nossa atração inata por objetos seguros, não ameaçadores e acolhedores. Contudo, fatores individuais como personalidade, cultura e contexto também podem influenciar na forma preferida. Levar em conta as preferências dos usuários no processo de design possibilita ao profissional de UX criar produtos visualmente mais atraentes e eficazes.

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