Frameworks de mudança de comportamento são a base da ciência comportamental aplicada. Criados por cientistas comportamentais para formuladores de políticas (“policy makers”) e líderes empresariais, esses resumos de informações avançadas sobre tomada de decisões são cruciais para aplicar pesquisas tanto no setor público como no privado. Os frameworks condensam estratégias para influenciar decisões humanas em dispositivos mnemônicos ou acrônimos simples e portáteis, possibilitando que conhecimentos teóricos complexos sobre como as pessoas pensam e agem sejam incorporados nas práticas de organizações em todas as áreas e ambientes.
A ideia básica de um framework de mudança comportamental
O modelo COM-B para mudança de comportamento identifica Capacidade (“Capability”), Oportunidade (“Opportunity”) e Motivação (“Motivation”) como os três aspectos fundamentais capazes de modificar um Comportamento (“Behavior”), e faz parte do Behaviour Change Wheel (“Roda de Mudança de Comportamento”).
- Capacidade: refere-se à capacidade psicológica e física de um indivíduo para participar de uma atividade.
- Oportunidade: diz respeito a fatores externos que viabilizam um determinado comportamento.
- Motivação: envolve os processos cognitivos conscientes e inconscientes que direcionam e impulsionam o comportamento.
Este modelo admite que o comportamento é influenciado por diversos fatores e que as mudanças comportamentais são induzidas pela alteração de pelo menos um desses componentes. O framework COM-B é especialmente importante ao considerar métodos de intervenção, já que os intervenientes precisam assegurar a sustentabilidade do comportamento aprendido. Geralmente, ele é aplicado em contextos de saúde pública.
Exemplos de uso do modelo COM-B
Modelo de comportamento COM-B e melhoria do uso de aparelhos auditivos
Embora existam muitas evidências de que o uso de aparelhos auditivos pode melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência auditiva, 30% delas optam por não utilizá-los. Barker e colaboradores (2016) analisaram se a implementação do modelo COM-B poderia servir para desenvolver uma intervenção para essa discrepância. Eles entrevistaram dez fonoaudiólogos buscando entender seus sentimentos em relação a cada componente do COM-B. Os fonoaudiólogos relataram perceber que a Capacidade física não foi um problema para eles e que tanto a Oportunidade física quanto a social foram relevantes para determinar se o planejamento comportamental provavelmente ocorreria. Também declararam que a Motivação desempenhou um papel significativo na definição da probabilidade de realização do planejamento comportamental.
No geral, Capacidade, Oportunidade e Motivação foram considerados fatores importantes para preencher as consultas de adaptação de aparelhos auditivos. Sendo assim, Barker e os colaboradores concluem que o modelo COM-B pode ser efetivamente empregado no desenvolvimento de intervenções audiológicas e fornecer suporte de autogestão.
Modelo de comportamento COM-B e melhoria do uso de antibióticos
A resistência aos antibióticos representa uma grave ameaça à saúde mundial. Caso nenhuma intervenção eficaz seja adotada, estima-se que causará 10 milhões de mortes por ano até 2050. Duan e colaboradores (2020) notam que essa resistência é causada pelo uso inconsistente de antibióticos prescritos – muitas vezes devido à má adesão às orientações médicas ou partilha de antibióticos não utilizados – e/ou pela automedicação com antibióticos. Infelizmente, a compreensão do comportamento do consumidor acerca do uso de antibióticos é limitada.
Duan e os colaboradores visavam investigar os padrões de comportamento do consumidor e criar estratégias para melhorar a utilização de antibióticos na China aplicando o Framework COM-B. Conduzindo entrevistas com 30 participantes, eles identificaram os atributos COM-B dos consumidores de antibióticos – como eram a Capacidade, Oportunidade e Motivação. Posteriormente, desenvolveram, testaram e validaram uma ferramenta de medição para entender como os consumidores de antibióticos se comportam. Essa ferramenta permitirá aos pesquisadores classificar e detectar padrões de comportamento ocultos dos consumidores. Duan e os colaboradores constatam que o seu instrumento facilita o processo de criação e implementação de intervenções direcionadas.
Por exemplo, um programa de revisão de medicamentos em casa pode ser útil para consumidores propensos a acumular medicamentos e a se automedicar.
Framework COM-B e UX Design
O framework COM-B, derivado da Teoria Comportamental de Intervenção (BCW), é uma ferramenta essencial no campo do UX Design. Ele oferece uma estrutura abrangente para compreender os determinantes comportamentais, psicológicos e sociais que influenciam as interações entre usuários e produtos. Ao analisar os componentes de Capacidade, Oportunidade e Motivação, o COM-B permite aos designers identificar áreas de melhoria no design de interfaces, sistemas e experiências digitais.
Ao entender os fatores que impulsionam ou dificultam o comportamento dos usuários, os profissionais de UX podem criar soluções mais eficazes e centradas no usuário, promovendo uma melhor experiência do usuário e aumentando a usabilidade e a satisfação geral.
Artigo adaptado de https://thedecisionlab.com/reference-guide/organizational-behavior/the-com-b-model-for-behavior-change