Como mapear a Experiência do Usuário e criar personas com OCEAN (Big Five)

Os Cinco Grandes Traços de Personalidade (Big Five), também conhecidos como Modelo dos Cinco Fatores (MCF), compõem uma estrutura amplamente utilizada por psicólogos para caracterizar personalidades individuais. Embora tenha sido originalmente desenvolvido por Ernest Tupes e Raymond Christal em 1961, o modelo só ganhou destaque na comunidade acadêmica no final da década de 1980 e início dos anos 90.

Diferentes grupos de pesquisadores sobre a personalidade humana chegaram à mesma conclusão ao identificar os cinco fatores que geralmente preveem e explicam o comportamento. Isso sugere que, até o momento, esses fatores são considerados válidos.

Os cinco fatores — representados pela sigla em inglês OCEAN — são pontuados entre 1 e 100 de acordo com a classificação do indivíduo em relação às pontuações médias após responder a uma série de perguntas (teste online do OCEAN).

Os cinco fatores (OCEAN) do Big Five são:

  • Abertura para experiência: esse traço reflete o apreço de alguém pela arte, aventura, inventividade, criatividade, sensibilidade à beleza, probabilidade de sustentar crenças não convencionais (questões de natureza abstrata).
  • Conscienciosidade: senso de autodisciplina, desejo de conquistas, tendência a desafiar medidas que impedem o caminho para o sucesso, organização, atenção aos detalhes.
  • Extroversão: descreve especialmente o quão sociável é o indivíduo (sua capacidade de iniciar conversas, interagir com várias pessoas em uma festa e se expressar, caracterizando-se como extrovertido em vez de introvertido).
  • Amabilidade: sensibilidade para com os outros, empatia pelas emoções alheias, interesse genuíno nas pessoas e desejo de fazê-las sentir-se à vontade, prontidão para dedicar tempo aos outros, gentileza, generosidade, confiança e otimismo quanto às intenções das pessoas.
  • Neuroticismo: inclui emoções negativas como raiva, ansiedade, depressão, irritabilidade e estresse facilmente desencadeados, preocupação e propensão a alterações de humor.

Cada indivíduo mapeia de maneira diferente cada um dos traços de personalidade OCEAN, e compreender como as pessoas ao seu redor se correlacionam é benéfico para as suas interações com elas. Entretanto, nem todos estão dispostos a compartilhar abertamente suas pontuações específicas de cada fator, principalmente porque alguns indicam traços socialmente negativos, como ansiedade e depressão.

Exemplo de uso do teste de personalidade Big Five

Antes de cofundar seu estúdio de design de produto, os diretores realizaram o teste de personalidade Big Five para avaliar o quão alinhados (ou desalinhados) estavam em suas personalidades individuais e, ao mesmo tempo, desenvolver empatia uns com os outros, reconhecendo os pontos fortes e compreendendo os pontos fracos de cada um. Embora revelar algo tão pessoal possa causar um certo desconforto, esse exercício possibilitou eliminar todos os comentários do tipo “Não entendo o ponto de vista dele” ou “Não sei de onde você tirou essa ideia”.

O enigma da personalidade

As ferramentas e metodologias no campo da experiência do usuário têm suas falhas, pois não levam em conta preocupações em um nível mais profundo que o do grupo de usuários. Uma experiência realmente significativa deveria se dirigir ao indivíduo, e não adotar uma abordagem genérica que se aplica a todos indiscriminadamente.

Os designers são hábeis em compreender as necessidades e desejos de grupos de pessoas, porém até mesmo as personas – ferramenta de UX que ajuda a criar empatia com usuários específicos – sempre os levam de volta a soluções que se expandem para atender grupos com base nas necessidades presumidas de um único usuário. Geralmente, projetar uma experiência para um usuário específico faz com que a maioria dos usuários se torne como ele e que a sua experiência desejada seja a experiência da maioria. As “Job Stories”, um enfoque relativamente novo nesse contexto, solucionam o problema de personas que segmentam o público atrapalhando os objetivos compartilhados. Elas são um bom meio de orientação para as tarefas e, por essa razão, permanecem compatíveis com uma proposta OCEAN para UX, onde abordam requisitos funcionais universais. Também deixam espaço para uma camada de apresentação e certos elementos funcionais voltados para indivíduos.

Aplicações práticas do teste de personalidade Big Five

Os aplicativos poderiam adaptar suas interfaces aos indivíduos. Por exemplo, considere um aplicativo fitness com uma função de corrida guiada por áudio. Usuários com altos percentis de Conscienciosidade podem se beneficiar dos comandos disciplinados de um instrutor militar e de um aplicativo que estenda suas metas um pouco além da sua zona de conforto, levando-os a dar o melhor de si. Por outro lado, para aqueles no outro extremo da escala de Conscienciosidade, seria necessária uma abordagem mais suave, com um reforço positivo, ajudando-os a atingir seu potencial máximo sem provocar qualquer alienação ou sentimento de incapacidade.

Isso também poderia ser aplicado à linguagem e às labels utilizadas nas interfaces. Talvez algumas cores atraiam determinadas personalidades. Ou talvez existam imagens que intimidem um grupo de pessoas, enquanto inspiram outros.

Uma maneira de mapear a experiência do usuário e entender o comportamento e características psicológicas do usuário é através da análise de dados, com métodos quantitativas. Por exemplo, ao utilizar o construtor de sites da Hostinger, é possível acompanhar diversas métricas sobre a utilização do site, e ainda poder implementar muito facilmente ferramentas complementares como Google Analytics e Hotjar.

Conclusão

Ao analisar as diferenças entre os indivíduos ao longo dos fatores OCEAN, estudos demonstraram que aqueles com elevada pontuação em Amabilidade são menos propensos a negociar aumentos salariais na sua empresa. Talvez os designers possam criar aplicativos que auxiliem as pessoas a alcançar os resultados desejados ajustando aspectos de suas personalidades que possivelmente estejam impedindo a realização de certos objetivos de vida.

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